Professor e escritor
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#PensarNaoDoi
"A República dos Insatisfeitos!"
".... Não existe esperança nas coisas.
Mesmo assim, é preciso
estar decidido a mudá-las...!"
Francis Scott Fitzgerald
Leo Wallace Cochrane Júnior, dissertou, certa vez, sobre o assunto acima, com grande mestria, que nos baseamos em sua obra, para a abordagem exata:
A República Brasileira já está com mais de cem anos – 139 -, e completamos este ano, o bicentenário da Independência. Para todos os que se identificam com objetivos e valores, regras e métodos da sociedade moderna, democrática, cabe a pergunta: que República é essa? Não é difícil a resposta: essa tem sido a República dos Insatisfeitos e dos Incomodados.
Na cidade um golpe, sua primeira e curta fase caracterizou-se pela dominação das armas, a chamada "República da Espada" (1889-1894). A fase seguinte, que só terminaria em 1930, esteve sob a égide do controle civil. No entanto, ficaram bem conhecidos os expedientes utilizados pela oligarquia que assumiu o poder: "Fraude eleitoral, mandonismo, coronelismo, filhotismo", decisões de “bolso de colete"... A jovem República tornou-se velha ao ser derrubada por outro golpe: a revolução de 30. Entre 1930 e 1937 o País experimentou seus primeiros ensaios nos chamados tempos modernos: surgiram as matrizes da vida partidária em âmbito nacional, a cena política entrou em compasso com o debate ideológico contemporâneo, a atividade estatal encorpou-se com a centralização, a diversificação das fungues governamentais. Em 1937, um outro golpe desfez a experiência democrática, iniciada sete anos antes, inaugurando a primeira etapa, abertamente, em nossa história republicana.
Entre 1945 e 1964, o Brasil conviveu com uma democracia. Quatro presidentes foram eleitos pelo voto direto, mas somente dois conseguiram cumprir normalmente seus mandatos. Um suicidou-se, outro renunciou. Dois vice-presidentes, cumprindo preceitos constitucionais assumiram seus cargos mas acabaram sendo depostos. Nascido de um golpe militar, o regime de 46 seria superado por outro movimento de força, o de 31 de março de 1964.
A partir de março de 1964, e por 21 anos, o País ficou sob rígido controle militar. Atos institucionais, atos complementares, Constituição imposta (a de 1967), emenda constitucional outorgada (a de 1969), casuísmo pacotes autoritários desfiguraram qualquer indicio da vida republicana e democrática.
A presente fase de transição pela qual ainda se atravessa, assinala a primeira etapa de nossa vida republicana, que, não tendo sido resultado de um golpe, não foi superada por outro golpe. Ao contrário, foi consequência gradual e penoso processo de integração entre a cúpula da corporação militar e as elites políticas civis que souberam interpretar os legítimos anseios republicanos da sociedade civil. Tal interação, por certo, muitas vezes foi áspera e tortuosa, mas nos levou ao atual estágio de liberdade de opinião pública e a promulgação de uma nova constituição. No entanto, sabe-se que os militares se retiraram do governo como formuladores, em última instância, continuam interessados na normalidade do processo de mudança política.
Uma rápida reflexão como esta já basta para demonstrar porque essa é a república dos incomodados e dos insatisfeitos. E também porque a opinião internacional pública nos trata com tanto menosprezo, nos aproximando muito mais da república das bananas do que das grandes democracias ocidentais.
Será que não é óbvio?
Tem um provérbio espanhol, que diz: "... Discrição é saber dissimular o que não se pode remediar...!"
Com fundamentadas razões históricas e sociológicas, os analistas estrangeiros veem os momentos democráticos, entre nós, como meros desvios ocasionais de uma constante trajetória autoritária.
Eles terão razão se não redobrarmos nossas condições republicanas e não fizermos da lucidez nosso principal exercício. Todos os administradores do capital, a liderança sindical tem que se convencer tal como ocorreu, até onde se solidificam as repúblicas democráticas, de que devem perfilhar um "possessivismo patriótico". Se todos quiserem pensar e defender seus episódicos momentos de poder, seus lucros imediatistas, seus salários de um ponto de vista meramente corporativo, é certo que se arriscam todos igualmente a perder tudo.
A pátria é como a família: se um perde, todos perdem; se um ganhar, todos ganham. Para que interessa ter esse poder, se esse poder leva ao terrorismo? De que interessa ter o lucro desmesurado, se isto leva a desestruturação da atividade produtiva? De que interessa ter aumentos salariais momentâneos, se isto leva ao caos e a desorganização social? Raciocínio, aparentemente, simples, mas que, na verdade, dá consistência aos fundamentos de qualquer nação viável.
A alternativa para o prosseguimento da transição rumo a uma verdadeira república democrática não é a revolução, como parecem desejar alguns, ou um novo surto de autoritarismo. A primeira alternativa não conta com nenhum requisito histórico realmente palpável e identificável. A segunda devido ao seu incalculável custo político e econômico, simplesmente mergulharia o País no caos.
Que República deve ser essa. Antes de qualquer coisa, ela deverá ser tudo que não foi até agora.
Deve ser tudo aquilo que o passado já registrou, informou, de geração a geração, e servido ao presente, para se preparar a tão sonhada modernidade, isto se ela já não passou correndo e assustada por aqui.
Deve ser um centro social de homens com cabeças livres, pensantes, de acordo com as necessidades que temos, e principalmente, vendo longinquamente à frente, todas as que teremos.
Deve ser a República, ou dê-se o nome que preferir de homens decentes e conscientes de seus deveres e responsabilidades, principalmente no tocante a direção equilibrada, justa e fraterna do estado.
O fraterno, aqui, não se entende, por distribuição de lucros conseguidos através do povo, para o paternalismo e a subserviência própria.
Deve ser o país, que aprendemos a amar novamente, que aprendemos a respeitar, e nossos símbolos usados com amor, com paixão, e não simplesmente para enfeitar paredes militares, e na maioria das vezes demagogos.
Deve ser o país do respeito mútuo, principalmente do respeito a vida, das crianças, das pessoas mais idosas, dos doentes, dos sistemas que estão tão abalados atualmente.
Deve ser o país dos nossos sonhos. Só que precisamos trabalhar, trabalhar, trabalhar, e muito trabalhar, para realizarmos estes planos.
Caso contrário, obviamente, permanecera como um grande e eterno sonho.
Só que não realizado.
Óbvio, não?
Bem, pensar... Ainda não dói!
Leituras & Pensamentos da Madrugada
José Carlos Bortoloti – Passo Fundo – RS
Jornalista e colunista do Opinião Liberal
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